A história deste astrônomo se mistura com seu trabalho e suas invenções. Sua vida familiar foi um desastre. Criou uma Teoria Teológica: a paz entre as religiões; que foi recusada pelos luteranos de seu tempo. Ele escrevia em estilo barroco. Era um dos poucos que defendia Copérnico (articulador do sistema heliocêntrico). Foi um dos poucos que aceitou e defendeu a Galileu Galilei (matemático e considerado o pai da ciência moderna).
Adentraremos agora na obra “Mysterium Cosmographicum” (1956) e o pensamento kepleriano. Kepler aceita o sistema heliocêntrico. Mas utiliza os cinco poliedros regulares da geometria para desenvolver sua tese. O que ele buscava era uma razão que justificasse as distâncias de cada planeta ao Sol. Procedia a priori (plano metafísico). Tentava explicar como Deus criou o mundo segundo uma ordem geométrica, servindo-se dos cinco poliedros sólidos regulares. Depois descobriu suas teorias a posteriori; comprovando o que era posto a priori. Nos primeiros vinte capítulos preocupou-se de descobrir as razões da distribuição espacial (afirmada) e do número de planetas (negada). Depois tentou estabelecer uma relação matemática entre a distância de um planeta ao Sol e o intervalo de tempo gasto para completar uma revolução (retorno dum astro ao mesmo ponto do céu) ao redor do astro. Ele substituiu a palavra ‘alma’ (anima matrix – espírito movente) por ‘força’ (vis matrix – força movente).
Mas como falar de Kepler sem falar de Tycho Brahe (astrônomo e amigo de Kepler). Ele acreditava ser importante uma observação sistemática e no aperfeiçoamento dos instrumentos para a melhor observação dos “fenômenos” (Kant uns séculos depois). Suas observações, ao longo dos anos, do planeta Marte, permitiram a Kepler a descoberta das Leis do Movimento Planetário. Tycho ao analisar um evento de uma supernova, demonstrou ser o céu mutável; desta maneira colocou por terra a doutrina da Corrupção cósmica, que se limitava a esfera sublunar. Algum tempo depois, Brahe, com a passagem de um cometa em 1577, demonstrou que o astro estava seis vezes mais distante da Terra do que a Lua; com isso, ele, golpeou outra concepção aristotélica: de que os cometas estariam situados no mundo sublunar. Através de suas observações encontrou erros nas Tábuas Afonsinas e nas Tábuas Prussianas. Daí nasceu a ideia das Tábuas Rodolfinas, concluídas por Kepler em 1622 e publicadas em 1927. Tycho inventou e aperfeiçoou vários instrumentos, viajou para vários lugares da Europa e visitou muitos astrônomos, construiu um laboratório (Uraniburgo), construiu um observatório (Estrelaburgo). E foi na Boêmia é que Tycho começou a trabalhar e a brigar com Kepler.
Kepler se tornou “Mathematicus Imperialis”. Este período foi pós-falecimento de Tycho, assumindo seu lugar, até o falecimento de Rodolfo II. Ele criou duas Ciências novas: Óptica Instrumental e a Astronomia Física. Deduziu que cada planeta deveria estar sob a influência de duas ações em conflito: a força do Sol e uma outra, situada no próprio planeta. Algumas de suas inovações foram: tratar o Sol como o centro de seu sistema, tanto física quanto geometricamente; considerava que as órbitas de todos os planetas encontravam-se aproximadamente num mesmo plano que continha o Sol, sem que esses “oscilem” no espaço; o abandono da ideia de movimento uniforme; somente a precisão era admissível; descobriu que ora os planetas se deslocam mais rápido e ora mais lentos, dependendo da distância do Sol. desenvolveu a lei de que a luz enfraquece em relação ao inverso do quadrado da distância. Produziu duas analogias sobre o Sol, enquanto papel motor: o Sol como uma grande fonte de luz; o Sol como um ímã que atraí para si os planetas.
Na obra “Harmonice Mundi”, Kepler, concebe o cosmos como obra de harmonia, onde as proporções geométricas estão por toda a parte. Também desenvolve as Leis de Kepler: a primeira lei é que os planetas descrevem órbitas elípticas em torno do Sol, ocupando este um dos focos da elipse; a segunda lei é que as áreas varridas pelo segmento imaginário que une o centro do Sol ao centro do planeta são proporcionais aos tempos gastos em varrê-las; a terceira lei é que o quadrado do período de revolução dos planetas é proporcional ao cubo de sua distância média do Sol.
Algumas observações sobre Kepler e sua obra podem ser feitas; como: “Kepler abandonou Copérnico durante sua pesquisa para estabelecer uma nova Ciência, explicando os movimentos fisicamente; e, na verdade, nos ofereceu assim o primeiro livro-texto de Mêcanica Celeste (Ronaldo Rogério de Freitas Mourão); cada obra de Kepler acrescenta mais a sua teoria inicial, de que o Sol é o centro do universo; respeita seus antecessores, é fiel a tradição, mas os supera, tanto que chega a revolucionar e descobrindo todo um sistema, ou seja, seu sistema se torna “mais quase-verdadeiro” que os demais; Kepler é um revolucionário, tanto que ao demonstrar um novo sistema, demonstra um novo conhecimento e passa a ser uma base importante para Newton que descubra suas leis.
Estes são alguns elementos sobre a vida de Kepler para saber mais eu aconselho a leitura de: FREIRE-MAIA, Newton. Verdades da ciência e outras verdades, a visão de um cientista. São Paulo: UNESP, 2008. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Kepler: a descoberta das leis do movimento planetário. São Paulo: Odysseus, 2003. WHITEREAD, Alfred North. A ciência e o mundo moderno. São Paulo: Paulus, 2006.
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