O Renascimento tem a ver diretamente conosco. Primeiro por sua origem enquanto palavra; segundo por sua localização na história; terceiro pela herança que nos deixou. Tudo isso está em nós. Na verdade cada período da história está em nós. Mas esta época tem um sentido muito especial de existir em nós; não só porque está mais próxima de nosso tempo, mas porque seus elementos essenciais ainda vivem em nós.
O Renascimento tem sua origem religiosa, esta que significa um segundo nascimento, o nascimento do homem novo ou espiritual de quem falam o Evangelho de João e as epístolas de São Paulo. Mas, a partir do século XV essa palavra começou a ser empregada para designar a renovação moral, intelectual e política decorrente do retorno aos valores da civilização em que, supostamente, o homem teria obtido suas melhores realizações: a greco-romana.
O Renascimento está localizado entre o período medieval e o período moderno, ou seja, está no meio de duas formas diferentes de pensamento. Os medievais que viviam em torno à transcendência pregada e explicada pela teologia católica e, os modernos que viviam em torno à imanência pregada pela ciência e filosofia modernas. Segundo Burckhardt, o Renascimento seria, portanto, uma época que viu surgir uma nova cultura, oposta à medieval. Ela é um espírito novo que, rompendo definitivamente com o espírito da época medieval inaugurou a época moderna.
Podemos perceber dois pensamentos em conflito o “construído” e o “em construção”. O pensamento “construído” é o medieval; este tinha uma visão da totalidade finita e observável, ou seja, o universo era finito e só se poderia contemplar o que já existia. O pensamento “em construção” é o moderno; este ainda estava em seu princípio no Renascimento; mas nos revelará um mundo infinito e possível de intervenção, ou seja, o universo é infinito e sim, se pode interferir no que existe. Este novo pensamento mantém-se até hoje.
Esse período abre as portas de um novo tempo, uma nova maneira de encarar o mundo e uma nova forma do homem pensar-se no mundo. Ele inaugura a modernidade e começa a moldar o novo pensamento ocidental. Percebe-se que, hoje, o Renascimento influencia a forma com que nos relacionamos com o mundo, a subjetividade, o “eu”. Apresenta-nos uma nova matemática, física, ciência... que vão se ocupar do empírico. Um conhecimento que leva em conta a noção de infinito, de interferir na ordem da natureza e etc.
O Renascimento, para mim, é como o despertar de um adolescente; nasce revoltado com a “realidade” existente e tenta mudá-la com uma nova forma de conhecimento; esta que dura até hoje, a ciência moderna. Período que faz nascerem todas as reflexões modernas, essas que duram até o nosso tempo. Essa época é o nascimento de uma nova forma de encarar o universo, a vida, a experiência, o conhecimento, a realidade... que dura até agora. Somos filhos do Renascimento. Se ele não tivesse existido nossa sociedade não teria chegado ao patamar que nos encontramos. Ele não está só no passado, ele ainda é o nosso presente; claro está por debaixo, nas raízes, do que chamamos contemporaneidade.
Mesmo que algum dia mudássemos de direção, mesmo assim teríamos nas veias de nossa atualidade o DNA do Renascimento. Ele surgiu para mudar a nossa história e nos elevar ao plano da modernidade. Esse período é o que nos constituiu enquanto modernos e nos constitui enquanto contemporâneos; ou seja, se hoje somos o que somos é porque bebemos a água na fonte da modernidade brotada da nascente do Renascimento.
Muito bom. Gostei.!
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